domingo, 14 de dezembro de 2014

Desenforme-se



















Sai fora com essa fôrma
Bisturi, cinta e tesoura
Me deixa ser essa pessoa


Quero costura que me represente
Modelo que me alimente
Para quê ser igual toda a gente?

Tão sofrido é ser medida
Transformar irmãs em inimigas
Para que competir, gerar intriga?

Beleza não se mede em fita 
Não fira a menina
Esse corpo você não dita

domingo, 9 de novembro de 2014

Lírica
















Ele diz ser artista
E sobre mim versos vomita
Não sei se acho legítima essa lírica 
Que lhe enche de orgulho enquanto recita

Foi encontro interessante
Experiência bonita
Música dançante

É de afeto que necessito
Mas isso não me basta
Quero escuta apurada 
Não serei silenciada

Essa indiferença me faz refletir
Será que devo prosseguir?
A pontualidade das diferenças não me deixa mentir

Tentei um dueto
Mas sem harmonia
     Melhor seguir sozinha.


terça-feira, 14 de outubro de 2014

Anomalia


















Essa tal heteronormatividade me cansa
O que tem você a ver com a transa?
Deveria é educar suas crianças
Não perco por nada essa esperança

Não tolero a sua ira
Piada in(ofensiva)
Visão turva da vida

Deveria cuidar do seu nariz
Normal pra mim é ser feliz 

sábado, 11 de outubro de 2014

Condicional





















Chega de condicional
Exaustivo ser irracional
Cárcere sentimental

O Encéfalo mandou um alô
Disse pra eu me recompor
Que tudo passa
Inclusive a dor

Por Marianna Rosalles

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Carnaval













Ascensão social é carnaval
Festa é ostentar aquele celular
Poder comprar sem parcelar

Mas qual é o preço a se pagar?
Engoliram ideologia
Regurgitam mercadoria

E nessa folia
Meu ideal permanece Utopia


Por Marianna Rosalles

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Truculência
















Lanço gás lacrimogênio
Para vingar as minhas lágrimas
Violência legitimada

Nem vem
Nem se apresenta
Que meu sangue esquenta

Hoje eu tô truculenta

Por Marianna Rosalles

terça-feira, 30 de setembro de 2014

Remendo


Do bordado fez-se remendo
Pra me blindar de seu descaso
Confesso que não entendo o que mudou
Foi acaso?


Pensei que quisesse ficar ao meu lado
De repente ficou tudo raso
No fundo já virou passado
Sorte que eu tenho meus aliados


Chega de atrasos.
                                      
                                             Por Marianna Rosalles

sábado, 20 de setembro de 2014

Estima-se

Estima-se que a estima
Se perdeu por aí
Escureceu e ela se escondeu
Se olhava no espelho mas não a via
Quem seria?
Não sabia


Virou a esquina e a encontrou então
O fez sozinha, era obrigação
Enfrentou o espelho
Se deparou com a Perfeição
                                                   Por Marianna Rosalles

domingo, 31 de agosto de 2014

Bordado

Conexão cibernética
Atração astral
Pessoas de carne
Vícios e tal

Um encontro
Dois seres 
Aparência
Ideal

Visão
Tato
Olfato
Que tal?

Virtual
Consensual
Sensorial

Me bordei em você
Fatal
Por Marianna Rosalles

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Ser mulher em SP


Ser mulher em SP é sair sozinha pela cidade
Ser mulher em SP é ouvir pelo menos uma cantada ao andar sozinha pela cidade
Ser mulher em SP é voltar irritada para casa por ter ouvido uma cantada no caminho
Ser mulher em SP é se sentir impotente
Ser mulher em SP é chamar um amigo homem para ir com você em certos lugares para se sentir mais segura

Ser mulher em SP é ouvir o amigo esquerdista contar como foi engraçado quando ele e os amigos apostaram quem ia pegar 'a gorda' na balada

Ser mulher em SP é ter amigos homens que desconstroem seu machismo
Ser mulher em SP é conhecer o feminismo via facebook
Ser mulher em SP é perceber que o feminismo nunca foi citado em toda a sua vida escolar
Ser mulher em SP é não ter certeza se é feminista ou não


Ser mulher em SP é gostar de cavalheirismo
Ser mulher em SP é não gostar de cavalheirismo
Ser mulher em SP é ser oprimida pela mãe por iniciar sua vida sexual 'cedo demais'

Ser mulher em SP é ser oprimida pela mãe por iniciar sua vida sexual 'tarde demais'
Ser mulher em SP é optar por se depilar ou não
Ser mulher em SP é sair de saia curta
Ser mulher em SP é sair de saia longa

Ser mulher em SP é ser negra, pobre e trans*
Ser mulher em SP é ser branca burguesa e cis
Ser mulher em SP é ouvir que a sua classe social oprime as demais
Ser mulher em SP é optar por quebrar os padrões de sua classe social


Ser mulher em SP é escolher fazer engenharia
Ser mulher em SP é decidir estudar

Ser mulher em SP é ouvir piadas sobre agressão doméstica no cursinho
Ser mulher em SP é participar da Frente Feminista da sua universidade
Ser mulher em SP é trabalhar
Ser mulher em SP é ganhar menos que um homem em um cargo equivalente


Ser mulher em SP é não ter seus direitos preservados
Ser mulher em SP é se interessar pela política
Ser mulher em SP é não se interessar pela política
Ser mulher em SP é saber que existem candidatas que lutam pelos direitos da mulher
Ser mulher em SP é ver mulheres reproduzindo discursos machistas


Ser mulher em SP é ver as companheiras de luta reagindo às opressões
Ser mulher em SP é se orgulhar das Severinas e sua revolução no Sertão

Ser mulher em SP é ter voz
Ser mulher em SP é resistir
Ser mulher em SP é lutar pela mudança
Ser mulher em SP é ter esperança.



Por Marianna Rosalles

terça-feira, 5 de agosto de 2014

Só a antropofagia concretiza Utopias


Carlos Drummond de Andrade apresenta em sua obra "Sentimento do Mundo", uma ideologia que reafirma os ideais modernistas e propõe um caminho para restaurar a humanidade. Segundo o autor, o indivíduo singular é insuficiente e deve tornar-se conhecedor de suas mínguas e, a partir daí, adotar uma postura antropofágica na busca pela evolução. A união de várias insuficiências concebe um todo suficiente porém instável, já que está sempre em busca de progresso. Assim, seria a proposta de Drummond mera Utopia? 

É possível afirmar que não. Na literatura, "a Cidade e as Serras", de Eça de Queirós, relata a transformação moral de um indivíduo, o burguês Jacinto, através do deslocamento do egocentro para o sociocentro e do exercício do questionamento de padrões massificados. Guiado por Zé Fernandes, Jacinto percebe que não há igualdade natural, a harmonia surge da diferença. Qualquer semelhança com os ideais do poeta não é mera coincidência. Eça de Queirós, anos antes, em sua obra exemplifica e reforça a possibilidade de aplicação da tese de "Sentimento do Mundo".

O primeiro passo para a execução da estratégia de Drummond no mundo contemporâneo seria a adoção de uma atitude antropofágica. Essa deveria ser disseminada a partir da escolarização básica: Paulo Freire, em sua obra, propõe uma educação crítica, na qual o estudante é sujeito ativo e aprende a desenvolver uma inquietude na busca por sanar suas incompletudes. O caminho para que isso ocorra está nas relações, tanto professor-estudante quanto estudante-estudante. Dessa forma, a importância do coletivo seria reforçada no cotidiano, resultando na construção de um singular suficiente.

Outro elemento que contribui para o andamento da proposta Drummoniana é a globalização e a acessibilidade à informação. O mundo está interligado através da internet, a popularização das redes sociais comprova a existência da necessidade de comunicar-se com o outro, compartilhar e curtir experiências. Resta sair do plano virtual e ir para o plano real. 

No entanto, mudanças sociais demandam tempo e engajamento, afinal uma reforma ideológica depende da adesão do todo, e cada um tem seu tempo para compreender e optar pela quebra de seus paradigmas. Abraçar essa escolha, a de ter uma atitude modernista, não se dá em curto prazo. Mas a solução proposta pelo poeta não é inexequível. 

É importante ressaltar que a ruptura de padrões não é um processo singelo, pelo contrário, quebrar-se é uma etapa agressiva, é necessário rever-se, ter uma abertura para mudanças de antigos pensamentos e atitudes. O contexto atual de Regime Capitalista, que prega a livre concorrência e alimenta uma postura individualista, dificulta ainda mais esse processo de conscientização da importância de cada um no coletivo, e do exercício do amor ao próximo e ao distante. A única forma de concretizar Utopias é por meio dessa atitude antropofágica. Assim, a partir dos cacos singulares provenientes desse processo, será possível construir um mosaico, a suficiência.



Por Marianna Rosalles


sábado, 5 de julho de 2014

A arte de Evelyn Queiróz – Negahamburguer ♥

Evelyn Queiróz é uma artista que traz em sua obra uma reflexão sobre os padrões de beleza femininos impostos pela sociedade. A artista aborda o tema por meio de diversas linguagens como o graffiti, lambe-lambe, pintura e ilustrações digitais.



Suas personagens são mulheres que se aceitam como são, indo contra a onda dos opressores padrões que nos bombardeiam diariamente e colocam em risco nosso amor próprio.



Sua arte reforça o valor das diferenças, estar fora da fôrma não é problema algum! Todas temos nosso valor e devemos amar nosso corpo, que afinal é nossa morada. 

Recentemente reuniu em um livro, o Beleza Real, histórias de mulheres que foram violentadas e as ilustrou. O livro foi feito de forma artesanal e foi realizado com a ajuda de doações, está à venda no site dela.

Negahamburger também faz desenhos personalizados sob encomenda, você também pode ter uma 'euhamburger'!



Eu particularmente me apaixonei por seu trabalho, Negahamburger é só amor ♥. Além disso ela é super ativa nas redes sociais e tem um site lindo (prefiro não comentar sobre o meu amor pela loja hahaha).

Seguem os links da página da Nega no facebook e o site: https://www.facebook.com/olanegahamburguer?fref=ts
http://www.negahamburguer.com/#negahamburguer

*Imagens retiradas do site e página do facebook da artista.
Por Marianna Rosalles 

Sobre começar.

Começar é sempre tarefa difícil, mas cá estou eu. 

A ideia de criar um blog foi mais uma daquelas conhecidas 'promessas de ano novo' que fazemos com o objetivo de nos reinventar de alguma forma.

Movida pela inquietude e a vontade de proporcionar reflexões senti a necessidade de criar um espaço onde pudesse propiciar o início das mudanças que desejo ver no mundo.

Desenforme-se vem de sair da fôrma, pensar diferente do cômodo, quebrar os padrões, o que tem sido meu objetivo pessoal.
    
Nesse espaço compartilharei  histórias das mais diversas áreas de pessoas que estão, assim como eu (nós?), repensando o mundo ao seu redor e propondo alternativas criativas e inspiracionais em seus trabalhos.
    
O Desenforme-se começa aqui!
    
Sejam bem vindos!
Por Marianna Rosalles